Eu poderia dizer que uma parte da minha vida foi uma espécie de borrão cinzento onde a alegria era completamente disfarçada e o vazio existencial era a norma. Foi uma época completamente despersonalizada, automática, parecia um zumbi, totalmente morto-vivo. Só havia uma diferença: eu não parecia um cadáver.
Poderia dizer que a caixa de Pandora foi aberta e a descoberta desse submundo começou aos 12 anos, mas não é muito preciso, de algum modo, ela já estava inserida na minha vida ainda que inconsciente. Rastreando os porões do meu cérebro, lembro que aos 10 anos tive contato com a primeira revista Playboy da minha vida, a modelo era uma ex-jogadora de vôlei brasileira.
Não lembro qual destino ela levou, mas o que sei é que 3 anos depois, eu estava comprando nas bancas de jornal minhas próprias revistas. Virei um “colecionador” assíduo de Playboy e Sexy. Quase todo mês comprava uma ou as duas, a depender da modelo da capa e me achava o máximo por conta disso; extremamente “independente”. Ledo engano.
Aos poucos eu ia destruindo meu imaginário e a linha do que era real e do que não era. Novos padrões eram formados, novos “gostos” eram moldados, estímulos eram substituídos e a vida aos poucos ia ganhando uma nova cor, nada agradável, por sinal.
Para um cara que sempre foi tímido e que tinha medo de se aproximar das meninas por medo de rejeição, aquele mundo era perfeito, eu não precisava de ninguém. Bastava escolher a capa, me esconder e pronto, o prazer literalmente na palma da mão.
O pior é que isso já não era suficiente, precisava de mais. Naquela época, as revistas tinham 15-20 páginas, quando muito, da modelo da capa nua. Hoje, um perfil comum no Instagram tem mais nudez que qualquer capa de Playboy que vier à cabeça.
Nesta busca por novidades, com quase 13 anos, descobri os filmes pornôs através de uma fita de vídeo cassete perdida pela minha casa. Hoje, olhando, parece que ela foi plantada especialmente para eu descobrir sua existência e começar a assistir. Aqui começava a ruína.
O que começou como curiosidade se tornou um hábito e depois um vício, que só fui me dar conta muitos anos depois. Agora estava contando as horas para poder assistir o filme, evitava festas para poder ficar em casa sozinho e aproveitar para ver, comecei a trocar o dia pela noite com a desculpa de “estudar com mais calma” para ver e desisti de qualquer tentativa de me aproximar de qualquer garota que existisse no mundo.
Pouco a pouco, sem perceber, eu estava me afundando em um lamaçal de podridão e perversidade ao qual eu não fazia ideia do que era. Agora, já não comprava mais revistas nas bancas, mas passei a comprar filmes que eram vendidos tanto nelas quanto no camelô.
Nesse período, eu trabalhava para o meu avô entregando pão para os clientes da padaria dele e todo dinheiro que eu ganhava, era literalmente para gastar com isso. Sem exceção. Me gabava desse comportamento no colégio e era visto como o “rei do pornô” entre meus amigos. Gostei do título, do personagem e abracei a causa de vez. Eu já não era mais eu.
Como um bom viciado, eu precisava de mais, de novos estímulos e “desafios”. Eu já tinha visto e revisto todos os filmes que tinha na minha gaveta pelo menos umas 3x. Não havia mais graça ali, queria algo diferente, como um fast-food pornográfico, onde em poucos minutos, eu tinha o vídeo quentinho servido na minha mão. E isso foi atendido com a internet banda larga que nascia no Brasil.
Vi literalmente de perto, uma espécie de testemunho ocular, a maioria dos sites que existem hoje surgirem e os que não existem, desaparecerem ou perder relevância. Vi mais vídeos do que poderia imaginar e sequer esperar na minha vida e a cada aba, me sentia como um sultão no harém virtual onde cada uma delas, era um atriz me esperando. Elas não me rejeitavam.
A partir desse momento, eu já não era mais dono de nada na minha vida. Sonhos, desejos, esperança, família e profissão, tudo ficou para segundo plano. Me contentava com um trabalho qualquer de 6h, para poder chegar em casa ligar o jogo e antes de dormir, “dar uma conferida nas novidades do site do momento”.
Entrei na vida adulta desse modo, embora ela nunca tenha começado de fato. Vivi na adolescência dos meus 13 até os 31. Completamente fraco, apático, perdido e desesperado.
O vício me afundava cada vez mais no egoísmo, vazio, indisciplina, na timidez, auto-referência, indiferença com o mundo e com quem estava ao meu redor. Me afastei inconscientemente da família, vivia deprimido e desanimado. Dormia no máximo quatro horas por noite e não rendia nada na faculdade e no trabalho. Era um completo inútil. Sim, o vício me inutilizou pro mundo e pra minha própria vida.
Mas o pior ainda estava por vir e eu não iria me dar conta tão cedo: O fim da esperança. Chegou um momento que eu desisti de tentar e aceitei que minha vida seria assim, para todo o sempre. Quando eu fui perceber, estava com 28 anos e perdido, sem namorada, sem perspectivas, sem carreira e tinha acabado de sair do meu antigo emprego. Eu era uma casca sem nada por dentro e com uma vida completamente cinza e sem sentido.
A única coisa que eu conseguia fazer no período era malhar. Sim, a academia me salvou de deixar esse mundo. A única coisa que eu conseguia fazer com prazer era malhar e a dieta (para ter resultado na academia, se não, não faria), de todo o resto, eu nem conseguia começar ou, quando começava, já pensava em desistir ou que não iria dar certo. O que ficou na minha cabeça até hoje.
Claro que nem sempre foi assim, quando eu iniciei um relacionamento, a coisa deu uma melhorada, eu precisava melhorar e decidi tentar, mas não tinha os meios e a grande maioria dos terapeutas recomendam a prática com a desculpa que “Ajuda na relação”…
Não estou me abstendo da minha culpa e responsabilidade, foi tudo culpa minha, mas é um fato. A frequência tinha diminuído um pouco, mas ainda existia e estava comprometendo minha saúde mental ainda mais. Eu não conseguia conectar os pontos, até por achar completamente “normal” a prática.
Eu consegui manter o relacionamento por um bom tempo, mas a fraqueza e a covardia desenvolvida me fizeram desistir na primeira grande dificuldade e acabei terminando.
O único lado positivo disso tudo foi que decidi finalmente dar um basta nesse simulacro de vida e procurar uma ajuda especializada que pudesse me ajudar a sair e depois de passar um ano na terapia, com um nível de sucesso não muito alto, devo ser sincero, conheci o trabalho do Miguel Soriani (aqui e aqui) e percebi o quanto a pornografia era capaz de destruir uma vida, desde a sua fundação.
Eu finalmente havia encontrado uma ponta de esperança e salvação para poder sair desse poço que eu me encontrava na vida e em todas as esferas. Seguindo, coloquei em prática as coisas que ele falava em seu perfil, comprei o seu curso e já não sei há quanto tempo estou sem consumir qualquer filme pornô. (uma das práticas para se livrar é não contar os dias).
Hoje, devo dizer que colho os frutos dos maus hábitos que cultivei por quase 20 anos na minha vida e não sou poucos. Dentre todos, o mais cruel e o maior estrago que posso contabilizar hoje é não saber ao certo quem sou eu. Eu vivi uma vida completamente falsa, sem personalidade, sem vontade, sem basicamente cultivar algo positivo.
Não sei bem o que gosto, o que não gosto, meus limites, não sou bom em me relacionar com pessoas e ainda tenho sequelas no imaginário consciente do período de vício. Imagens, sons, “gemidos” ainda passam na minha cabeça e até alguns gritos das atrizes. Se eu me esforçar por 5 segundos, lembro de pelo menos 20 cenas e 30 nomes de filmes com tranquilidade.
No atual momento em que escrevo essa reflexão, estou reconstruindo minha vida, longe da pornografia e masturbação, tentando desenvolver uma carreira dentro do marketing digital como analista de mídia paga (Gestor de tráfego para quem não conhece), estudando sobre marketing dia e noite e por fim estou buscando deus e uma vida com valor através da igreja católica. Sim, estou me convertendo ou me converti ao catolicismo.
Por algum motivo Deus foi misericordioso comigo e deve ter algum bom plano para minha vida; devo ter fé e acreditar enquanto corro atrás dos meus sonhos. Consegui recuperar meu desejo de ser pai e formar uma família, casar e ter uma casa feliz para dar uma boa infância aos meus filhos, coisa que nunca tive.
Não tem sido nada fácil, mas se esse é o meu combate, devo combatê-lo. É o pedágio.
No geral, as coisas estão indo bem, hoje consigo ter uma esperança e graças a deus, a cada dia fico um pouco mais longe disso e mais perto de Deus. Amém.
Você pode achar que é só um vídeo e que é inofensivo, mas não é. Claro que para cada pessoa, a ação é diferente, mas no final, o estrago é uniforme. Lembre-se que o peixe não sabe que está na água até que seja retirado dela. Se eu posso dar um conselho é: fique longe da pornografia e tenha uma vida saudável.
Que Deus os abençoe, Amém.
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